top of page

Blog

Para grandes Birras pequenos Truques

“Era uma vez a Rita, uma menina de cinco anos que quando lhe perguntaram o que queria para o Natal pediu um pónei… o pedido tornou-se realidade, embora de nada lhe servisse. O que a Rita queria mesmo era o brinquedo, não o animal (…).

A Rita tomava banho com a mãe e dormia na cama dos pais sempre que pedia. Os pais diziam que ela tinha tudo, pois o mais importante das suas vidas eram os filhos. E contudo, a Rita não parecia uma menina feliz. Integrava-se mal no jardim de infância e fazia birras sempre que era contrariada (…). Quando todos iam almoçar fora, tinha de ser sempre ao mesmo restaurante, pois caso contrário não comia, e se via qualquer coisa de que gostava, reagia agressivamente se não era logo atendida. Por isso, os pais consideravam-na uma «tirana».

Como é possível uma família, em que estando todos tão próximos, existem tantas dificuldades que inibam o prazer da relação?” (Urra)

Movidos pela culpabilidade, muitos pais tentam compensar os filhos do que acham ser as suas falhas, sobretudo no que respeita à de falta de tempo. Enquanto pais, é fácil o quanto rapidamente nos sentimos responsáveis pelo que de menos bom acontece aos nossos filhos. Na maioria das vezes, procuramos fazer de tudo o que está ao nosso alcance para que eles sejam felizes. A sociedade atual parece dificultar a tarefa de educar.

É o tempo que não se multiplica, parecendo antes cada vez mais curto, são os horários que levam aos desencontros familiares, são as relações que se desmoronam e que obrigam à reestruturação de um eu que deixou de ser nós e os efeitos que tal produz no seio familiar, são as profissões cada vez mais exigentes. Muitas das vezes, nem estamos preparados para lidar com as situações, mas isso não deve fazer com que nos sintamos culpados.

Assistimos a uma sociedade que passou de um esquema de relação patriarcal autoritário para outro excessivamente centrado na criança. Esta mudança radical não é reprimida, pelo que as famílias se tornaram mais permissivas, tendo perdido elementos de contenção que deveriam estar presentes na vida das crianças.

Entre os 2 e os 7 anos, as crianças entram numa etapa de desenvolvimento normal caracterizada pelo egocentrismo, em que se verifica uma incapacidade cognitiva da criança de distinguir entre a sua perspetiva e a do outro, pois pensa que o mundo gira à sua volta (exemplo: “a lua segue-me”, “a bola bateu-me”).

De facto, em alguns casos, a presença de “pais fantasmas” em casa, que raramente têm tempo para a família que construíram, aliada a uma excessiva permissividade, pode contribuir positivamente para a manutenção do egocentrismo infantil. Noutros casos, os pais, defensores da utilização do diálogo como única ferramenta de educação levada ao extremo, não fazendo quaisquer imposições à criança, ganham contornos difusos no seu papel de pais, não conseguindo transmitir mensagens consistentes aos seus filhos. Noutros, os pais que evitam qualquer tipo de conflitos com o reino da pequenada, negoceiam até à exaustão, consentindo tudo.

Talvez, então, nos possamos perguntar: Que tipo de pai/mãe sou eu?

Com efeito, os pais recorrem àquilo que trazem da educação recebida na infância, sendo também influenciados pelas crenças e expetativas culturais e sociais sobre a educação, tentando, assim, descortinar o estilo de educação que melhor se coaduna à sua família. E porque muitas das vezes olhamos para a criança não como uma pessoa, não pelo que é, mas pelo que pode vir a ser, que ficamos confusos no quando devemos agir, no quando devemos proporcionar a aprendizagem e no quando devemos disciplinar. Sabemos o quanto é importante saber educar. Mas como promover a disciplina de modo a nos sentirmos mais seguros e proporcionar, assim, a confiança e o respeito na criança? Disciplina significa “ensinar” e não castigar. Contudo, por vezes é importante a aplicação de um castigo na presença de determinados comportamentos inadequados. Como tal, esse deve ser aplicado logo após o mau comportamento da criança, devendo ser breve, e respeitando sempre os sentimentos da criança.

Comparação entre limites firmes e lassos (MacKenzie)

A pouca definição de limites leva à incapacidade da criança compreender que não pode ter tudo, que tem de passar sem, ou que para ter é preciso esperar, desejar, imaginar e criar. O estabelecer regras, o guiar e direcionar os comportamentos da criança, definindo consequências para os maus comportamentos, gera nesta um sentimento de previsibilidade e segurança. O mundo é mais seguro para explorar pelos seus próprios pés, caindo e levantando-se, uma vez que se os limites e as consequências do comportamento forem claros, a criança sentirá que é mais fácil tomar decisões acerca do que fazer, mesmo que isso signifique sentir e pensar de forma diferente da nossa, mas continuando a amar-nos. Quando uma criança pressente qualquer decisão, tende a repetir o seu comportamento ou até a reforçá-lo. A disciplina resulta quando os pais impõem de forma convicta o que pretendem e a criança sente que é importante para ela respeitar a decisão dos adultos.

Assim, enquanto se ensinam as regras sociais à criança, estamos a construir os alicerces para uma casa onde as capacidades de negociação, de resolução de problemas, de tolerância à frustração e a autorregulação (princípio fundamental da socialização) estarão bem desenvolvidas, bem como onde um sentimento de segurança, necessário à adaptação com sucesso às exigências do meio, terá um quarto onde dormir.

De facto, as birras conseguem pôr à prova a paciência e a serenidade dos pais. Podem acontecer em qualquer fase, mas a sua época por excelência é entre o ano e meio e os três anos.

As crianças nestas idades são, regra geral, muito expressivas, mas onde verdadeiramente isso se faz notar é quando decidem fazer um berreiro: choram, gritam, dão pontapés nos móveis, cabeçadas contra a parede, ficam inchadas de raiva, passam de vermelho a azul... Enfim, não se poupam a esforços. E não é nada fácil para nós, enquanto pais permanecermos calmos. As birras normalmente desaparecem por volta dos cinco anos, quando as crianças começam a ter melhores capacidades orais.

Contudo, por mais aborrecidas que sejam as birras é normal acontecerem. Não preciso de me sentir culpada(o). Da mesma forma como surge a fase dos dentes, também surge a fase dos caprichos. Dependendo das características de personalidade da criança, umas mais sossegadas e outras temperamentais, também temos crianças que têm muitas ou poucas birras. Mas se uma criança desta idade não tem qualquer capricho, isso é raro. Devemos preocuparmo-nos mais com uma criança demasiado sossegada do que as que, esporadicamente, têm atos de rebeldia, porque o normal... é elas acontecerem.

Então, que tipo de pai/mãe quero ser?

Em todas as fases de desenvolvimento há comportamentos que parecem demasiado agressivos e descontrolados, parecendo que vivemos no reino de um pequeno tirano, mas que na realidade são normais, constituindo-se como parte do processo de “um dia ser grande”. Todavia, se os pais reagirem de forma excessiva nesta fase exploratória, estes comportamentos podem ver-se reforçados.

A tendência que a criança tem para os caprichos resulta de uma combinação do seu temperamento inato e da educação que recebe, ou seja, da atitude que nós, pais, temos a esse respeito. Não é preciso assustar-nos com as birras, mas antes ter em consideração que é sempre possível tentar diminuir a sua frequência e intensidade. Podemos ajudar a criança a aprender formas mais adequadas para expressar a sua vontade e os seus desejos sem renunciar à sua crescente independência. Porque existe o risco que os caprichos, que são episódios normais no desenvolvimento infantil, se tornem num hábito e num traço de personalidade no futuro.

O primeiro grupo de regras deve aplicar-se antes que a birra aconteça. Consiste em prevenir, sempre que possível: muitas vezes é fácil adivinhar quais as situações que as podem provocar e, consequentemente, escapar-se a tempo. Por exemplo, deve evitar-se o cansaço ou a excitação em demasia, parar com as atividades antes que a criança fique demasiado cansada ou muito excitada e, com isso, controlar as suas emoções. Não devemos dar-lhe tarefas demasiado complicadas procurando mudar o cenário antes que fique frustrada por não poder fazer o que quer.

Se a prevenção não funcionar…

Bom, às vezes as medidas preventivas não dão resultado, e rapidamente encontra-se no meio de uma sonora birra. Que faço então? Começo pelo que não tenho de fazer. Primeiro, não perder a calma e recordar que estou perante um comportamento normal, embora pouco agradável. A tarefa mais difícil quando se enfrenta uma criança muito aborrecida é controlar a nossa própria raiva.

É importante que sejamos um bom modelo de autocontrolo, embora possa parecer difícil perante uma criança com birras frequentes. Apesar de tudo, uma mensagem de amor incondicional é muito importante para uma criança que acaba de perder o controlo. Por exemplo, um bilhete que poderia ser formulado desta maneira: «Embora me aborreça muito o que fazes, nunca deixarei de gostar de ti».

· Devo evitar a raiva e gritar mais alto que a criança;

· Devo evitar descarregar na criança as minhas próprias frustrações e inseguranças;

· Por vezes, tentar o diálogo nesses momentos, não é eficaz: a criança envolvida nas suas emoções é pouco acessível ao diálogo quando está em pleno choro. As explicações podem ser oportunas, mas uma vez superada a crise;

· O que é absolutamente proibido é ceder quando a birra é fruto duma proibição nossa que, por sua vez, achamos ser a atitude mais correta.

Isto não quer dizer que sejamos inflexíveis. Às vezes podemos apercebermo-nos que fomos demasiado rígidos ou que o desejo da criança, afinal, não era assim tão descabido. Em algumas ocasiões podemos inclusivamente decidir que não vale a pena desencadear uma birra. Mas o que é preciso evitar é que a criança descubra nestas uma forma de "levar a sua avante".

À medida que as crianças crescem, e com a nossa ajuda, compreenderão melhor as coisas e será mais fácil que se controlem de uma forma mais razoável.

As birras num local público põem-nos à prova, e por vezes não sabemos como reagir. Se, pressionados pelo que dirão as pessoas, acedermos, por exemplo, em comprar à criança algo que não quer, para a próxima vez fará o mesmo. Assim, temos de ter em conta o seguinte:

· O melhor é atuar como em casa. Devemos colocar a criança num canto e esperar que se acalme. Se for necessário, podemos levá-la para um local mais isolado e, sem aborrecer as outras pessoas (por exemplo, num restaurante), fecharmos a porta até que fique mais calma.

· Não nos devemos incomodar com o facto de outras pessoas presenciarem a cena. As pessoas sabem que é uma criança e, se alguém não o entende, esse é um problema que não é nosso.

· Às vezes é possível prevenir as birras em público evitando confrontar a criança com situações que de certeza não vai suportar: um dia de compras demasiado comprido, por exemplo.

· Também podemos distraí-la. Uma grande ajuda é fazer com que participe numa atividade (não a deixar de lado), solicitando a sua colaboração e comentado tudo o que estamos a fazer.

Porque crescer implica ficarmos maiores não só em altura! O desejo de “ter tudo aqui e agora e porque eu quero” vai diminuindo, pois a criança começa a ter os alicerces necessários para uma casa em que a disciplina e o respeito pelos outros têm quartos amplos, não estando confinados a um T1 abafado e com mofo. Consegue agora gerir os seus impulsos e as suas emoções, nesta mansão que é o seu cérebro em rápida evolução. As birras vão, assim, diminuindo pouco a pouco.

Featured Posts
Archive
Follow Me
  • Grey Facebook Icon
  • Grey Twitter Icon
  • Grey Instagram Icon
  • Grey Pinterest Icon
bottom of page