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Criança e o Divórcio

Porque como qualquer história, também as histórias de amor têm um início, meio e fim e, por vezes, não terminam com o “e viveram felizes para sempre”.

No meio desta história de reis e rainhas, existem pequenos príncipes e princesas que se vêem envolvidos nesta batalha de “gente grande”.

O divórcio é nos dias de hoje uma constante social. A separação afeta adultos e crianças de todas as idades. A situação de separação, ou divórcio, gera muita ansiedade e incerteza na família, nomeadamente nos filhos, que se sentem frequentemente assustados e confusos. A maioria das crianças faz fantasia da reconciliação dos pais e sofrem uma grande desilusão quando um deles ou até os dois casa de novo.

Para os Pais

A determinado momento das nossas vidas tomamos consciência de que haverá uma separação ou um divórcio. A partir daqui, uma catadupa de emoções e sentimentos nos assolam, precipitando-nos para um mundo desconhecido e, por vezes, assustador.

Todavia, se ignorarmos o quão difícil é este período de rutura poderemos ter sérias dificuldades na compreensão desta passagem no nosso ciclo de vida.

Em termos gerais, sabemos como construir uma relação afetiva, uma vez que o aprendemos de forma direta com os nossos pais ou indireta com a cultura que nos rodeia (filmes, livros, etc.). Com efeito, sabemos como agradar, como nos apresentar de uma forma cativante, como atuar no jogo de sedução de forma a prosseguir para uma relação afetiva. Todavia, nunca ninguém nos ensinou como desconstruir esta relação.

Na verdade, as pessoas tendem mais a demolir uma relação afetiva do que a desconstruir, pois a demolição é um processo mais rápido e com maior satisfação a curto prazo, trazendo consigo uma espécie de alívio e colmatando uma necessidade de catarse.

O stresse do choque psicológico

Ao longo do nosso ciclo de vida, vamos sendo confrontados com alguns “choques” – o ficar doente, o perder um ente querido, a doença de alguém próximo – experiências difíceis que nos marcam de forma profunda, geradoras de stresse.

A situação de stresse no contexto específico da separação é provocada por diversos sentimentos e/ou realidades, tais como a tristeza perante a partida do outro, a raiva em relação ao que está a acontecer e que não se desejava, a culpa perante o fracasso da relação, a ansiedade pelo novo futuro, o sentimento de ser abandonado(a), rejeitado(a), a perda económica, as perdas relacionais, o aumento das responsabilidades do progenitor que detém a custódia. Porém, apesar do grande stresse que provocam, todas estas situações são passíveis de se ultrapassarem.

Sob o efeito de uma situação de stresse tão intensa, é normal que as pessoas adotem um comportamento anormal ou até bizarro, dizer disparates, “dar espetáculo”, ao ponto de já não reconhecerem nem a si nem ao outro. Todavia, para se sobreviver como pais durante este período de crise, é necessário perdoar muitos dos erros e faltas cometidos e resistir à tentação de realçar os desvios de comportamento do outro progenitor, podendo ser bastante tentador explorar as fraquezas do outro.

Muito frequentemente, as pessoas tendem a reter os maus momentos deste processo ou deste choque aquando da avaliação das capacidades do outro no momento em que é exigido o desempenho da “função paterna”, deixando de acreditar no valor do outro. Contudo, os aspetos positivos da outra pessoa, os bons momentos vividos, o terem formulado um projeto de vida e constituído família, deixam de ser percecionados durante este período, sentindo que “mais ninguém existe, que nada foi real e que já não existe futuro” (Timmermans, 2006, p. 21).

Como tal, daí chamarmos crise a este momento tão difícil e de sofrimento intenso que é o choque psicológico da separação que, até ter resolução, pode estender-se por cerca de dois anos, variando de indivíduo para indivíduo. Efetivamente, o que mais há durante todo este processo é sofrimento, muito apoiado no sentimento de rejeição que é sentido não só por quem sofre com a decisão mas, igualmente, por quem a toma.

Assim, o período da separação pode ser vivenciado como um “falhanço afetivo”, marcado por um sofrimento que parece não ter sentido, pelo que se torna necessário dar sentido a este sofrimento, agarrando numa bússola e partindo à procura de um novo Norte algures num lado mais soalheiro de nós próprios. Porém, é, por vezes, muito mais fácil culpar o outro por este sofrimento, mas tal não vai mudar a dor sentida. Devemos olhar para dentro de nós, pôr-nos a apanhar sol por dentro e procurar a nossa quota parte de responsabilidade nesta crise, pois não existe somente um culpado – é uma responsabilidade partilhada. Ao resistir a enfrentar esta crise, estamos a condenar-nos a reviver constantemente aquilo que não compreendemos – muitas pessoas mudam de casa, de emprego, de companheiro, de amigos, quando o maior desafio deveria ser mudarem-se a si próprias. É necessário passar por um processo de tomada de consciência, o qual é um movimento profundo que atua não na nossa memória mas na nossa personalidade – é tornarmo-nos um ser novo, renovado e despido das roupas usadas do passado, renovado por uma cirurgia emocional e um lifting da alma.

Para a criança

A separação dos pais é, inicialmente, um acontecimento confuso e turbulento, pois qualquer criança imagina que seja a razão suficiente para que ambos os pais permaneçam juntos.

De facto, a estabilidade, a coerência e segurança que os pais representavam é, com frequência, posta em causa, de uma forma brusca e profunda, pela forma como percecionam o que está a acontecer com os pais. Estes passam de “heróis” a personagens frágeis e instáveis, levando muitas vezes a uma parentificação destas crianças, pois de figuras protetoras e acolhedoras passam a acolhidos e protegidos pelos próprios filhos que se aliam, frequentemente, ao “mais fraco”, aquele que desempenha o papel de vítima.

As crianças não têm responsabilidade na separação dos pais, mas sofrem com as consequências desta. Com efeito, se o impacto da dissociação familiar se faz sentir em todos os membros da família, é sobre as crianças que maiores repercussões têm.

Esta nova situação familiar pode provocar na criança um sentimento de abandono generalizado, podendo levá-la a acreditar que não tem nenhum espaço junto de ninguém. Na verdade, são adotados novos espaços, novos candidatos a pai e a mãe, irmãos (filhos da relação anterior dos novos parceiros dos pais) e novos irmãos (filhos da nova relação).

As crianças devem ser respeitadas, não as expondo a situações conflituosas ou a outras que possam desencadear sentimentos de culpa, perda ou abandono. É também desejável de que sejam poupadas a momentos tristes, como os preparativos e momento da partida de quem sai de casa, ou o esvaziar dos objetos que simbolizam quem parte, bem como a competições desenfreadas entre os pais, como base no “dou-te isto para que gostes mais de mim”.

Entende-se, atualmente, que, do ponto de vista psicológico, não existem separações felizes para as crianças e é mesmo unanimemente aceite de que o grande interesse das crianças é manter ambos os pais ao longo da vida. Porém, já que não pode ser juntos como casal, que o sejam como pais.

Perante a separação dos pais, as crianças podem ter alterações sintomatológicas reativas variáveis, de acordo com a idade, sexo, vulnerabilidades ou competências. As crianças não são só sensíveis às mudanças de vida que a separação parental produz, assim como a nova situação familiar lhes coloca exigências a vários níveis com que terão de lidar. Todavia, é perfeitamente possível um ajustamento saudável às novas situações de vida.

Para tal é crucial que os progenitores compreendam que a parentalidade e a conjugalidade são dois fenómenos independentes, uma vez que, apesar de o casal se ter separado, tal não implica uma rutura com os filhos, salvaguardando a qualidade de pai e de mãe, o que se reveste de extrema importância para as crianças.

É comum surgirem reações infantis que mais não são do que a expressão do receio de abandono por um ou ambos os pais, agravando-se estes medos se o contacto entre pais e filhos se perder ou for muito incerto. Porém, se as relações se mantiverem intactas e os progenitores se manterem presentes e apoiantes, estes medos não têm razão para existir. Quando a criança sente que continua a ocupar um lugar central na vida dos pais, continua a ter esperança no futuro.

As respostas das crianças à nova situação dependem de muitos fatores e existe uma grande variedade entre eles. Se algumas lidam com facilidade com as novas exigências da nova situação, outros apresentam perturbações emocionais, com problemas de ordem sociocognitiva e comportamental.

A separação e/ou divórcio dos pais não é uma situação traumática com danos irreparáveis para os filhos. É antes uma situação de transição, como muitas outras no ciclo de vida da criança, comportando riscos para o seu desenvolvimento psicológico.

A situação de separação/divórcio dos pais exige que os filhos se envolvam num processo de adaptação, com início no momento da separação e que prossegue durante o seu desenvolvimento, muitas vezes até à idade adulta.

Este processo passa pelas seguintes fases:

  1. Tomar conhecimento da nova realidade e daquilo que ela envolve em termos de mudança de vida. A criança ou adolescente vai compreender que há mudanças na sua vida associadas à rutura conjugal, mas não tem de se sentir abandonada pelos pais.

  2. Conseguir desenvolver um distanciamento face ao conflito parental e voltar à sua vida normal, retomando as atividades habituais com serenidade.

  3. Conseguir lidar com os sentimentos de perda e/ou revolta face aos pais.

  4. Desculpabilizar. Conseguir lidar com a sua raiva e compreender que os pais podem ter errado mas merecem respeito.

  5. Aceitar a permanência da separação e abandonar os desejos ou fantasias de recuperação da estrutura familiar anterior.

  6. Voltar a sentir-se confiante e com uma perspetiva positiva para o desenvolvimento de relações interpessoais.

A separação poderá provocar na criança um estado psíquico semelhante ao luto, com sofrimento e implicações na maturidade psíquica. A cicatrização da “ferida emocional” passa por vários estádios, semelhantes aos do processo de luto, em que a criança tem de lidar com a perda e a raiva.

Durante o período de choque, a criança é invadida por sentimentos que vão da recusa à revolta, sendo frequentes os pensamentos do tipo: “Será que ela/ele vai voltar?”, “Porque é que me fizeram isto?”, verbalizando “Estou muito triste!”, “Não gostam de mim!”, “A vida é má!”.

Após uma fase inicial em que a criança tem dificuldade em compreender o que se passa, segue-se um período de aceitação da realidade, primeiro só em termos cognitivos, depois a nível global. Só desculpabilizando e aceitando a permanência da rutura a criança pode avançar para uma visão realista.

Finalmente, a criança irá investir na sua vida tal como ela é na realidade.

A comunicação entre os pais – A importância da coparentalidade

Para grande parte dos casais, o rompimento da relação é vivenciado com alguma turbulência, por vezes ressentimento e uma profunda sensação de perda. São frequentes os sentimentos de raiva e de desejo de vingança, conflitualidade, podendo levar a que, de forma consciente ou não, usem os filhos contra o outro, como meio de “castigar” ou para obter benefícios deste.

Contudo, também há situações contrárias, em que as crianças são poupadas aos conflitos, pelo que existem pais que conseguem “separar as águas”. É importante que os pais consigam ter em atenção o interesse dos filhos na resolução dos seus problemas, serem capazes de separar a relação conjugal da relação parental. Há pais que, de facto, se empenham em ter uma boa relação com os filhos, não desqualificando ou denegrindo a imagem do(a) ex-cônjuge e mantendo(a) sempre como parte importante e não secundária nas decisões que são tomadas relativamente à educação das crianças. Como tal, há pais que conseguem preservar a imagem do outro progenitor e, além disso, de a promover junto dos filhos.

Todavia, esta situação é difícil. É frequente os filhos serem usados, por vezes até retirados da convivência com o outro progenitor, uma vez que um dos progenitores não considera que o ex-parceiro(a) tenha direito à proximidade e amor dos filhos, sentindo, inclusive, raiva por os filhos gostarem de estar com este(a). Esta situação dá a perceber às crianças de que elas têm de escolher – têm de gostar mais de um e menos de outro – esquecendo os sentimentos dos filhos e o direito destes a terem uma vida própria. Com efeito, é difícil ser filho de pais separados.

Um pai e uma mãe separam-se como marido e mulher, não dos seus filhos, e é importante para a criança que sinta que ambos os pais a amam e vão continuar a amar, independentemente das novas dinâmicas familiares. A relação conjugal termina mas as relações familiares persistem, pois o Pai e a Mãe mantêm-se para toda a vida.

A criança pode anular-se ou deprimir-se caso seja forçada a escolher posições em que um dos progenitores está a ser posto em causa. Tal também poderá acontecer se a criança for levada ou forçada a aderir a posições negativas face ao pai ou à mãe ausente, correndo o risco de bloquear as identificações masculinas ou femininas que, para serem estruturantes da personalidade, necessitam de existir como modelos de referência (Strecht, 2001, cit. in Coutinho Barbosa, 2002). Situações em que a mãe diz mal do pai ao filho ou o inverso, são exemplos claros do que não deve ser feito, pois, entre outros aspetos, irá causar sofrimento na criança.

Os pais devem ter em atenção de que o bem-estar das crianças depende, igualmente, da sua capacidade para manter contacto emocional íntimo com ambos os progenitores. As crianças que têm uma boa relação com ambos os pais reúnem mais condições para ser emocionalmente saudáveis. Mais importante de que os pais estarem juntos ou separados, é o facto de estarem solidários, mantendo relações de amor e lealdade para com os filhos (Leal, 2000, cit. in Coutinho Barbosa, 2002).

Muitas vezes, durante o período de separação, os pais estão demasiado preocupados consigo próprios para estarem sensíveis às necessidades dos filhos, deixando-os negligenciados e num vazio emocional. A diminuição do envolvimento de cada progenitor com a criança, as dependências excessivas tratando-a como parceira ou confidente e não como a criança que é, os contactos irregulares, os contactos não programados e a violência das relações dos pais são alguns dos aspetos mais comuns que contribuem para o sofrimento da criança.

Se os conflitos entre os pais persistirem ou a chegada de um terceiro elemento os absorve, a criança poderá sentir-se desvalorizada, receosa e insegura. Sob a capa da indiferença, desprendimento aparente, agressividade ou chamada de atenção, esconde o sofrimento que lhe causa o que para ela é sentido como desinteresse e desamor por parte do pai ou da mãe por si, como filha.

Num divórcio ninguém ganha… as crianças sofrem sempre.

O pior que se pode fazer aos filhos é colocá-los no meio desta guerra de adultos, usando-os como arma de arremesso como forma de magoar o outro. Tanto o pai como a mãe facilmente manifestam sentimentos competitivos e de raiva quando utilizam uma criança, e isso faz-lhe doer. Não esqueçamos que estamos em plena guerra fria neste processo de sobrevivência a um amor que se julgava eterno.

Uma criança que se vê envolvida na luta dos próprios pais, cresce na expetativa de se tornar um adulto irritado, inseguro e conflituoso.

Um sentimento de culpa, misturado com o medo de ver os pais separados, assalta a criança. Ela questiona-se diariamente acerca do que não soube fazer para que os pais tivessem vontade para continuar juntos, pois aparentemente só continuam juntos por ela. De facto, ela acha que não merece ser amada. Assim, intimamente ligada à discussão dos pais, verifica-se uma grande diminuição da autoestima da criança.

Devemos falar aos filhos da separação logo que este passo esteja decidido. As crianças apercebem-se das tensões familiares e sentem, por intuição, de que alguma coisa se está a passar. Mesmo que os pais tenham conseguido acalmar as suas próprias atitudes agressivas, sejam as zangas, as discussões, os berros. Um silêncio pesado e a falta de gestos carinhosos não passam despercebidos ao seu filho, que facilmente adivinha os sentimentos dos pais e que a união da família está ameaçada. Comunicando-lhe com sinceridade, dizendo-lhe o que realmente está a acontecer, evitar-se-á que imaginem situações ainda piores.

O divórcio pode provocar um turbilhão de emoções na criança, é importante deixar que os nossos filhos experimentem e exprimam essas emoções. Devemos repetir por diversas vezes que os amamos e que eles não são, de modo algum, responsáveis pelo divórcio dos pais, e que continuaremos sempre a olhar por eles.

Devemos evitar pensar no assunto como uma separação definitiva, temos um filho juntos, podemos divorciar-nos mas nunca nos poderemos separar do facto de sermos pais do mesmo filho. É por isso que lhes devemos dizer que porque as crianças, elas próprias quando discutem com os irmãos, o que mais as satisfaz é ir cada um para o seu quarto.

Cada um de nós, enquanto pais, faz questão de assegurar ao seu filho de que “o papá e a mamã vão gostar sempre muito de ti”. E ainda bem porque não há razão para não gostar mais do nosso filho pelo facto de o casal se separar. E imaginar sequer esta possibilidade parece estranho à criança e não é suficiente para a tranquilizar, talvez até a inquiete mais. É evidente que nós o amamos, arriscamos mesmo a, por um sentimento de culpa, começarmos a superprotegê-la e até estraga-la só com medo de perder o seu amor. O problema talvez não passe por questões de amor recíproco, pais-filho, mas sim pelo elo entre as duas partes indissociáveis de si mesmo, os seus pais. E é aqui que os sentimentos se devem fixar.

As mudanças de qualquer tipo são difíceis para a maioria das crianças, e o divórcio por sua vez implica mudanças monumentais na vida de uma criança. Os pais devem explicar cuidadosamente todos os pormenores daquilo que se vai passar, certificando-se de que o dizem de uma forma clara e perfeitamente compreensível.

Embora seja muito natural que os ex-cônjuges tenham opiniões negativas acerca um do outro, uma criança que se vê com uns pais que não se dirigem a palavra mutuamente, com um pai que o deposita junto ao prédio sem uma palavra ou uma mãe que telefona logo que ele chega a casa do pai e que nem quer falar com o ex-marido, sentir-se-á dividida entre os ressentimentos dos pais, perguntando-se qual o partido que deverá tomar.

A criança continua a amar os dois e precisa de ambos como pais. Será extremamente doloroso ter de se calar acerca de um dos pais na presença do outro. Ver que os pais são inimigos cria um grande conflito e um problema de integridade física à criança. O pai ou a mãe ausente tem uma responsabilidade paralela, as visitas devem ser feitas de modo claro, confiante e no horário combinado. Para uma criança, até 15 minutos de espera representa uma eternidade. Essa visita torna-se um símbolo daquilo que a criança mais receia, ou seja, o abandono. Se porventura, esse pai ou mãe não conseguirem chegar à hora marcada, devem telefonar ao filho e, quando chegarem, devem pedir-lhe desculpa pelo atraso e cumprimentar a criança antes de cumprimentar o ex-cônjuge. Os pais deverão ser sempre amigos, se a mãe ao deixar a criança na escola de manhã lhe disser que vai almoçar com o pai ou se o pai lhe disser “Sabes eu gosto muito da tua mãe, e vou gostar sempre e se ela estiver doente ou precisar de alguma coisa, vai poder contar sempre comigo”, talvez assim a criança possa continuar a viver a sua infância descansada. Ela pensará que a vida continua com dois pais que, num dado momento, se amaram ao ponto de o ter trazido ao mundo e agora são aliados. Até porque há várias formas de gostar (sexualmente, amar, sentir carinho, afeição, amizade).

Devemos dar tempo aos nossos filhos para que se ajustem às mudanças radicais que o divórcio implica. Embora o divórcio seja doloroso para todos os que estão envolvidos, os sentimentos devastadores que traz consigo não têm de permanecer eternamente.

E, decerto, com uma certa colaboração, firmeza, um amor e um encorajamento contínuo podemos ajudar os nossos filhos a passar por esta difícil experiência.

E não esqueça…

Que filhos e pais precisam de tempo para se adaptarem a grandes mudanças.

Que os filhos conseguem aguentar a tristeza e indisponibilidade temporária dos pais, desde que saibam que são amados.

Que os pais são sempre as pessoas mais importantes na vida dos filhos quer vivam com eles ou não.

Que podem sempre recorrer a psicólogos ou mediadores familiares para os ajudar.

E que ninguém, nem os pais ideais, conseguem ser sempre pacientes, tolerantes e compreensivos.

O que evitar a todo o custo

- Criticar o outro progenitor e discutir com ele em frente da criança. O lesado é o filho, que precisa de amar e respeitar ambos os pais.

- Ter roupa específica para ir a casa do outro. Por exemplo, antes de o pai a vir buscar, a mãe veste a roupa à criança que, por vezes, pode ser logo tirada à chegada a casa do pai. Na hora de regresso a casa da mãe, a criança veste novamente a mesma roupa. Para a criança, este ritual só acentua a divisão entre as duas casas, embora ela, criança, seja só uma!

- Fazer um interrogatório (“o que comeste, o que fizeste, com quem estiveste”) quando a criança regressa a casa do outro progenitor ou falam ao telefone. Com estas perguntas, a criança sente-se num conflito de lealdades, sobretudo quando o interrogatório é acompanhado de críticas ao outro (“ela sabe que não te faz bem comer chocolates” ou “não te lava os dentes e depois sou eu quem paga o dentista” ou “é fácil ser o pai que dá presentes, quando estou cá eu para educar”).

- Pedir aos filhos que tomem o partido de um contra o outro. As crianças ficam com sentimentos de culpa, por não conseguirem ser fiéis aos dois, como gostariam.

- Alterar os períodos com o outro progenitor, sem avisar atempadamente e sem combinar logo um período alternativo. Não só gera o desapontamento na criança, como também a leva, bem como ao outro progenitor, a perder a confiança em si.

- Impedir os filhos de estarem com o outro progenitor, como forma de o agredir ou pressionar. As crianças precisam de saber que ambos os pais as amam e que querem ser parte integrante da vida delas. É importante para o desenvolvimento da sua autoestima e da capacidade de confiar no outro.

- Fazer dos filhos mensageiros entre os pais. Os pais têm de arranjar uma forma de comunicar entre eles, que não coloque os filhos no meio das questões dos adultos (carta, correio eletrónico, telefone ou mesmo terceiros).

- Nunca perguntar aos filhos com quem querem ficar, a mãe ou o pai. Eles não devem ter de escolher entre os pais, mas sim tê-los ambos presentes na sua vida.

As estratégias aqui apresentadas baseiam-se nas preocupações que mais frequentemente são apresentadas pelas crianças, adolescentes e progenitores no contexto da prática clínica.

Susana Luís

Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta

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